domingo, 23 de dezembro de 2007
Tic-Tac
Transtorna o transeunte,
Transpassa o traçado,
Transforma o traço.
Tu tendes a ter
Transfigurações tenebrosas.
Tropas de tambores
Tiram tua tranqüilidade.
Em tantos tempos
Tantas tralhas
Trançaram tuas têmporas.
Quando até tardar, tempestades.
Trocas tramadas
Transferiram tentações.
Com o transporte do tato
O toque te trava.
Tentas tirar tudo
Do teu texto.
Todavia, o tempo
Que assim te trata, te tem.
Ricardo Cardoso de Lima e Silva
02/11/2007
terça-feira, 20 de novembro de 2007
mais um sem título
Às vezes, mesmo no outono,
O cheiro da primavera
Enriquece-nos os pulmões.
Algo aflora nessa parte de fauna
Que somos nós.
Nossos desejos se encontram.
Mútuos, intensos, naturais,
Controlam-nos a mente e o corpo.
Nossos corpos ferventes
Transigem à fantasia.
Nossas carcaças se colam,
Umas às outras,
Na esperança
De que nos tornemos um só.
Mas o espaço de um, é dele.
E somente dele,
Para gozar da liberdade de ser.
E nossos logos se conformam,
Em ter tido nossa noite fogosa
E o prazer que será,
Em alguma dimensão,
Eterno.
Ricardo Cardoso de Lima e Silva
19/11/2007
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Poema
Se me esqueceres
(Pablo Neruda)
Quero que saibas
uma coisa.
Sabes como isso é:
se olho
a lua de cristal, o galho vermelho
do outono lento à minha janela,
se toco
perto ao fogo
a cinza impalpável
do corpo enrugado do tronco,
tudo, a ti, me levas,
como se o que existe,
cheiros, luzes, metais,
fossem pequenos barcos
que navegam
para tuas ilhas que por mim esperam.
Mas,
se aos poucos deixares de me amar
à ti deixarei de amar aos poucos.
Se de repente
me esqueceres
não me procures
pois, por mim já deves ter sido esquecida.
Se pensas louca e longamente,
ventos conspícuos
que sopram por minha vida,
e decides
deixar-me à beira-mar
do coração onde criei raiz,
lembres
que em tal dia,
à tal hora,
erguerei os braços
e minhas raízes planarão
à procura de outra terra.
Mas
se cada dia,
cada hora,
sentires teu destino em mim
com implacável doçura,
se cada dia uma flor
subir-te os lábios à minha procura,
ah meu amor, ah meu eu,
em mim o fogo se repetirá,
em mim nada se extingui ou se perde,
do teu, meu amor se nutre, amada,
e enquanto viveres estará em teus braços
sem que deixe os meus.
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Nudez
Lento,
No alto
Do salto
Vermelho
(seus pés me
pisam e
engolem
como afogar-se
na corrente).
Ela respira,
E dorme.
Suor de
Pudor
Dos olhos escuros
(não sei se
falo
ou deito
ao seu lado;
não dormirei
em seus braços).
O ventre
Entrelaçado
De passado,
Resiste
Ao toque
(devo perceber
a Nudez
nos olhares
que não
trocamos)?
Guilherme Lanari Bo Cadaval 24/9/2007
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
Versos em Quarto Fechado
Na vida.
Não é ilusão de sexo,
Nem a carne ferida.
Nem estrela
Que brilha
Por não ser impedida.
Mas euforia contida.
Sabor
Do saber
Ser.
O nada em cada tudo.
Nada faço
Com a vida
Ela que me faz.
Fez e fará.
Lembraremos juntos
O verão
De nossas idas.
Guilherme Lanari Bo Cadaval 15/9/2007
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Poema
(Ferreira Gullar)
A poesia
quando chega
não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
de qualquer de seus abismos
desconhece o Estado e a Sociedade Civil
infringe o Código de Águas
relincha
como puta
nova
em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
reconsidera: beija
nos olhos os que ganham mal
embala no colo
os que têm sede de felicidade
e de justiça
E promete incendiar o país.
terça-feira, 18 de setembro de 2007
Sacrifício
– Segue, disse a voz. E o homem seguiu, impávido
Pisando o sangue do chão, vibrando, na luta.
No ódio do monstro que vinha
Abatendo com o peito a miséria que vivia na terra
O homem sentiu a própria grandeza
E gritou que o heroísmo é das almas incompreendidas.
Ele avançou.
Com o fogo da luta no olhar ele avançou sozinho.
As únicas estrelas que restavam no céu
Desapareceram ofuscadas ao brilho fictício da lua.
O homem sozinho, abandonado na treva
Gritou que a treva é das almas traídas
E que o sacrifício é a luz que redime.
Ele avançou.
Sem temer ele olhou a morte que vinha
E viu na morte o sentido da vitória do Espírito.
No horror do choque tremendo
Aberto em feridas o peito
O homem gritou que a traição é da alma covarde
E que o forte que luta é como o raio que fere
E que deixa no espaço o estrondo da sua vinda.
No sangue e na lama
O corpo sem vida tombou.
Mas nos olhos do homem caído
Havia ainda a luz do sacrifício que redime
E no grande Espírito que adejava o mar e o monte
Mil vozes clamavam que a vitória do homem forte tombado na luta
Era o novo Evangelho para o homem da paz que lavra no campo.
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
Sofia
Assalta-me o corpo
Em noites distantes.
Se joga logo ao fronte;
Sofia nada teme.
(só barata pela janela).
Nela me encontro.
Em meio ao caos
De tantos dias.
Tantos dizeres e fazeres.
Tantas nuvens
De papel
Voando.
Vejo Sofia lá no alto,
Sempre sorriso no cenho.
(Sofia me rouba tudo que tenho).
E acena.
Ou talvez espante os mosquitos
A beber-te o sangue.
Às vezes no mau tempo,
Me jogo à terra
Esperando Sofia
Ser chão.
Guilherme Lanari Bo Cadaval 2/9/2007
domingo, 16 de setembro de 2007
Desde o Primeiro Instante
Olfato me tranqüiliza;
Audição me amedronta;
Tato me arrepia;
Paladar me alegra.
Pois ao último instante
Já és minha.
E nossas línguas se roçam.
Tuas coxas me prendem.
Dançamos a noite inteira.
Perdemos-nos entre prazeres e orgasmos.
És minha por uma foda.
Sou teu pela eternidade.
sábado, 15 de setembro de 2007
Poema
(Carlito Azevedo)
Perdera – era a
perdedora. Repara
como anda, não lembra
uma onda morta de medo
pouco antes de
desabar sobre a areia?
Você se pergunta: o
que pode fazer por ela
o poema? Nada, calar
todos os seus pássaros
ordinários –o que lhe
soaria como bruscas
freadas de automóvel.
Se ele pudesse abraçá-la
em não abraçá-la. Mas
ainda assim a quer
reviver e captar, faz
os olhos dela brilhar
numa assonância boa e,
invisível, faz do corpo
dela o seu. Repara
ainda um pouco. Mais
do que se pensa, ele a
perdeu: com a areia do
seu deserto amoroso
ergueu-lhe sua
triste ampulheta. Fim.
Perdera
era
o
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
Problema
Tentarei postá-los ao máximo, mas enquanto isso, imitarei meu sócio e postarei textos de artistas aleatórios.
Por hoje é só.
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
Retorno
Vertigem
Caio.
Em casa sem chão e tábuas
De madeira velha
Que alinhei junto ao colchão
Nas mil noites mal dormidas
Sem unha pra agarrar
A mão a mim estendida,
Caio.
Medo no escuro
Sento.
No banco vermelho
Exposto em meio ao serrado
Eu amarrado e com mordaça de flores
Pra sangrar todos meus amores
Que passam distantes
Onde os dedos não chegam,
Sento.
Tiro no peito
Sinto.
O tempo correndo
Sempre em demasia
De poucas palavras
E tics e tacs do relógio
Que bate só na cozinha
E me invade toda vez quando vou mijar,
Sinto.
Parado no ar
Vejo.
Redentor lá no alto
Roubando-me a cama
Sem lençóis nem fronhas
E vazia de mim
Que sento na sala
Em meio a fumaça
Pensando quanto tempo ainda falta
Para que algo aconteça.
Guilherme Lanari Bo Cadaval 6/9/2007
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Insônia
Fecham-se ardidos.
Meu corpo dolorido
Se revira na cama.
Minha mente exaurida
Pensa erroneamente.
Suplico por ti.
O desgaste diário
Passara o limite.
“Venha logo” penso.
Meus olhos fechados
Se cansam de arder.
Meu corpo revirado
Dói na cama.
Minha mente pensativa
Erra ao descansar.
“Trabalho inacabado”.
Tento relaxar,
Respiro fundo
Desejo-te.
Meus olhos ardidos
Se fecham para o cansaço.
Meu corpo, na cama,
Revira sua dor.
Meu pensamento errado
Mente o repouso.
Tua presença
Me ilumina.
Tua demora
É compensada.
Tu, finalmente,
Me pões a dormir.
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Outra Crônica
(Luis Fernando Veríssimo)
Hoje, existem pílulas milagrosas, mas eu ainda sou do tempo das grandes ressacas. As bebedeiras de antigamente eram mais dignas, porque você as tomava sabendo que no dia seguinte estaria no inferno. Além da saúde era preciso coragem. As novas gerações não conhecem ressaca, o que talvez explique a falência dos velhos valores. A ressaca era prova de que a retribuição divina existe e que nenhum prazer ficará sem castigo. Cada porre era um desafio ao céu e às suas fúrias. E elas vinham – Náusea, Azia, Dor de Cabeça, Dúvidas Existenciais – às golfadas. Hoje, as bebedeiras não têm a mesma grandeza. São inconseqüentes, literalmente.
Não é que eu fosse um bêbado, mas me lembro de todos os sábados de minha adolescência como uma luta desigual entre o cuba-libre e o meu instinto de autopreservação. O cuba-libre ganhava sempre. Já dos domingos lembro de muito pouco, salvo a tontura e o desejo de morte. Jurava que nunca mais ia beber, mas, antes dos 30, “nunca mais” dura pouco. Ou então o próximo sábado custava tanto a chegar que parecia mesmo uma eternidade. Não sei o que o cuba-libre fez com o meu organismo, mas até hoje quando vejo uma garrafa de rum os dedos do meu pé encolhem.
Tentava-se de tudo para evitar a ressaca. Eu preferia um Alka-Seltzer e duas aspirinas antes de dormir. Mas no estado em que chegava em casa nem sempre conseguia completar a operação. Às vezes dissolvia as aspirinas num como de água, e engolia o Alka-Seltzer e ia borbulhando para a cama, quando encontrava a cama.
Mas os métodos variavam. Por exemplo:
Um cálice de azeite antes de começar a beber – O estômago se revoltava, você ficava doente e desistia de beber.
Tomar um copo de água entre cada copo de bebida – O difícil era manter a regularidade. A certa altura, você começava a misturar a água com a bebida, e em proporções cada vez menores. Depois, passava a pedir um copo de outra bebida entre cada copo de bebida.
Suco de tomate, limão, molho inglês, sal e pimenta – Para ser tomado no dia seguinte, de jejum. Adicionando vodca, tinha-se um Bloody Mary, mas isto era para mais tarde um pouco.
O sumo de uma batata, sementes de girassol e folhas de gelatina verde dissolvidas em querosene – Misturava-se tudo num prato de pirex forrado com velhos cartões do sabonete Eucalol. Embebia-se um algodão na testa e deitava-se com os pés na direção da ilha de Páscoa. Ficava-se imóvel durante três dias, no fim dos quais o tempo já teria curado a ressaca de qualquer maneira.
Uma cerveja bem gelada na hora de acordar – Por alguma razão, o método mais popular.
Canja – Acreditava-se que uma boa canja de galinha de madrugada resolveria qualquer problema. Era preciso especificar que a canja era para tomar, no entanto. Muitos mergulhavam o rosto no prato e tinham que ser socorridos às pressas antes do afogamento.
Minha experiência maior é com cuba-libre, mas conheço outros tipos de ressaca, pelo menos de ouvir falar. Você sabia que o uísque escocês que tomara na noite anterior era papagaio quando acordava se sentindo como uma harpa guarani. Quando a bebedeira com uísque falsificado era muito grande, você acordava se sentindo como uma harpa guarani e no depósito de instrumentos da boate Catito’s em Assunção.
A pior ressaca era de gim. Na manhã seguinte, você não conseguia abrir os dois olhos ao mesmo tempo. Abria um e quanto abria o outro o primeiro se fechava. Ficava com o ouvido tão aguçado que ouvia até os sinos da catedral de São Pedro, em Roma.
Ressaca de martini doce: você ia levantar da cama e escorria para o chão como óleo. Pior é que você chamava sua mãe, ela entrava correndo no quarto, escorregava em você e deslocava a bacia.
Ressaca de vinho. Pior era a sede. Você se arrastava até a cozinha, tentava alcançar uma garrafa de água e puxava todo o conteúdo da geladeira em cima de você. Era descoberto na manhã seguinte imobilizado por hortigranjeiros e laticínios e mastigando um chuchu para alcançar a umidade. Era deserdado na hora.
Ressaca de cachaça. Você acordava, sem saber como, de pé, num canto do quarto. Levava meia hora para chegar até a cama porque se esquecera como se caminhava: era pé ante pé ou mão ante mão? Quando conseguia se deitar, tinha a sensação que deixara as duas orelhas e uma clavícula no canto. Olhava para cima e via que aquela mancha com uma forma vagamente humana no teto finalmente se definira. Era o Konrad Adenauer e estava piscando para você.
Ressaca de licor de ovos. Um dos poucos casos em que a lei brasileira permite eutanásia.
Ressaca de conhaque. Você acordava lúcido. Tinha, de repente, resposta para todos os enigmas do Universo. A chave de tudo estava no seu cérebro. Devia ser por isso que aqueles homenzinhos verdes estavam tentando arrombar sua caixa craniana. Você sabia que era alucinação, mas por via das dúvidas, quando ouvia falar em dinamite, saltava da cama ligeiro.
Hoje não existe mais isso. As pessoas bebem, bebem e não acontece nada. No dia seguinte estão saudáveis, bem-dispostas e fazem até piada a respeito. De vez em quando alguns dos nossos se encontram e se saúdam em silêncio. Somos como veteranos de velhas guerras lembrando os companheiros caídos e nosso heroísmo anônimo. Estivemos no inferno e voltamos, inteiros. Mais ou mesmo. Um brinde. E um Engov.
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
O Liberto
sábado, 8 de setembro de 2007
O Beijo da Vida
Seu coração batia forte como mil trovões e suas mãos tremiam com insegurança. Ele havia acabado de se declarar para ela e esperava sua resposta. Mas a resposta não viria pois ela estava pior que ele, ela estava em choque. Conseguiu juntar coragem e fez com que seus instintos o comandassem. Todas as suas fibras o levaram para frente e sua boca fora conduzida a dela. Ela não recusou, pois seu desejo não era diferente. Lábios se tocaram e as suas mãos seguraram o rosto da menina, como se em caso soltasse, ela fugiria. Mas essa não era a verdade. Finalmente a menina se mexeu e suas mãos se afirmaram no torso do garoto. Ele, por sua vez, colocou as mãos em torno dela, na altura da cintura. As mãos dela subiram e seus braços envolveram o pescoço do amante. E assim ficaram, dançando. Suas línguas, em sincronia com seus corpos, liberavam uma energia maravilhosa, que infiltrava suas células, seus corações.
Então, o machado atravessou seu pescoço em um lance só e sua cabeça voou. Jatos de sangue indicavam seus últimos batimentos cardíacos.
sexta-feira, 7 de setembro de 2007
Uma Crônica
(Rubem Braga)
Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.
Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
Rio, novembro, 1958
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
Troca de Personas
Levantou-se e seguiu até a varanda. Lá, observou as estrelas, com curiosidade, tentava enxergar algo além de pontos, ligando-os. Mas nada sabia de astronomia. Suspirou e resolveu só apreciar o bonito céu. Os infinitos em passados distantes, muitas vezes mais velhos que ele mesmo. Afastou-se da luz do cômodo cheio e barulhento. Assim, ele podia respirar melhor a brisa, e sentir seu odor. Podia ver o céu quase azul de tão iluminado por tantas estrelas, agora, mais aparentes. O ar gelado da noite o fez ficar grato por estar vivo. Voltou para o cômodo barulhento, infestado de criaturas espaçosas.
Pegou algo para beber, sua garganta já lhe cobrava umidade. Água foi o líquido ideal. Desceu-lhe até o estômago, refrescando-a apenas como anjos o fariam. Terminou seu copo e foi ao banheiro. Trancou-se e sentou-se na privada com a tampa fechada. Estar em um cômodo tão pequeno, sozinha, fazia a vida parecer simples, trivial.
Esperou por uns minutos.
Ergueu-se e abriu a torneira. Apenas para sentir a água escorrer em suas delicadas mãos. Abriu a porta. Alguém esperava para usar o banheiro.
Logo depois, saiu do ambiente em que se encontrava. Com o rosto lavado, foi socializar com os amigos. A vida continuava igual e era mais do que o esperado. Voltou ao seu lugar, dando uma breve passada no outro lado do cômodo, em uma certa têmpora esquerda contida em um sofá. Sentou-se na mesma poltrona, de frente para ela.
Estavam felizes por existir o amor.
terça-feira, 4 de setembro de 2007
sem título
Evitando despencar.
Os cadarços balançam
Como quem nada quer.
As carteiras se abrem
Mesmo sem querer.
Cadê a pasta de dentes?
Cadê minha escova?
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
Aviso
Obrigado à todos que passam por aqui,
Guilherme.
domingo, 2 de setembro de 2007
Saltinho em Bancos
“Você tem um cachorro, sua mula.”
E o universo fez sentido.
sábado, 1 de setembro de 2007
Poema
(Ferreira Gullar)
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
Indecentemente Formosa
Seus lindos olhos.
Vistos através do vidro
Como numa vitrine
Da mais bela forma.
Indecentemente perfeitos.
Seus lábios rosados,
Mordidos, tamanha aflição.
A beleza mental
Combina-se ao corpo,
E, embora genial,
Seu nervosismo é exposto.
Gota de suor,
Escorre-lhe a testa.
A perfeita esfera prateada.
Fruto de tanto esforço.
E, apesar de toda a atenção,
Não percebe.
O poeta em seu caminho.
Balançando, rabiscando.
Ao lado dele,
Ela mal sabe, mas,
A fonte de sua inspiração,
É sua beleza eterna.
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
Sem Título
acanhado
Sou eu.
Diga achar,
Nas coisas
Leves
e
Falidas
Que roçam
(e dançam)
Em cantoria matutina
A eternidade
de uma
flor
Fechada em página de livro.
Guilherme Lanari Bo Cadaval 28/08/2007
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Tato
Suave e pesado,
Como uma rosada
Pétala, sobre a
Imensidão da gravidade
Do poderoso Júpiter.
Oh, grande Newton!
Tal poder de lei
Em dedos famintos
E vulgares.
Oh, músculo cansado!
Dureza da vida
Em forma de massa
Que causa suar.
Profunda magnitude!
Oh, ser tão vivo!
Sensual e gentil.
Como um toque,
Suave e pesado,
Como uma formosa
Pétala.
terça-feira, 28 de agosto de 2007
Soneto de Cumplicidade
Que corria por trilhas desconhecidas,
Ignorando o peso de nossas vidas,
Na sua brincadeira contra o vento.
Dias numa solitária solidão,
Sem saber se primeiro noite ou dia,
Num desfiladeiro onde ninguém dizia,
Se ainda batia com seus pés no chão.
Brisa pela porta entra sorrateira.
Bate nos rostos, levanta poeira.
Carrega pra fora nosso sentimento
De que a vida já não nos pertencia,
Porque mesmo que ela fosse vadia,
Vivemos seu todo e cada momento.
Guilherme Lanari Bo Cadaval 10/08/2007
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
Esférica Alegria
domingo, 26 de agosto de 2007
A Atriz
A atriz?
Se canta e constrói,
Às vezes criança
De tarde.
Noutras, Senhora da Noite.
Ela reflete,
isso digo.
Salta de alma para a cena.
Já as luzes,
[que nunca ofuscam
suas feições de menina]
Abrem espaço
Por
Entre
O
Povo.
E a atriz?
Vai se rindo,
Desconstruindo
E caminhando
Pé
ante
pé.
É espetáculo sozinha.
Faz mudo gritar
Tolo compreender
É tempestade na Lua
Dá vida ao que inexiste.
Mas aonde vai
A atriz,
No fim de espetáculo?
Deve andar por ruas,
Arrastando
buquês.
Ou,
(e é mais provável)
Beber no fim do mundo.
Ou então...
Então não existe.
Volta a ser
Mulher.
Guilherme Lanari Bo Cadaval 23/08/2007
Obrigado à Luíza pela foto.
sábado, 25 de agosto de 2007
sem título
A sensação úmida
De um odor frio.
A sinestesia
Influenciando olfatos alheios.
As crianças choram,
O futebol será cancelado
E o dever de casa, esperado.
Os animais se recolhem,
A impermeabilidade de seus espíritos
Não é refletida na de seus corpos.
As plantas, ressecadas, alegram-se,
Pois a sede não durará muito
E a chuva não tardará.
- olfato - cheiro da terra e do ar antes de uma chuva.
Tá aí, o segundo, espero que goste.
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
Poema Vermelho
Boca,
Pele,
Rasga,
Fere.
Ferida aberta no rosto do homem.
Era só eu, era mais um.
Enquadrado em perfil dissonante.
Esquadrado por tropas de areia.
Parece vermelho-sangue.
Que jorra do arranha-céu.
E mancha vestido,
Inunda rua,
Suja calçada,
Estarrece o cinza.
Agora estava ali.
Um estendido entre prédios.
Se nasce rosa escura em cidade preta,
Não é rosa.
Guilherme Lanari Bo Cadaval 23/08/2007
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
O Salão de Festas
Pulando, pulsando.
Suas células juntas,
Transpirando,
Se mexendo em um só ritmo.
A respiração musical
Envolvendo a todas,
Com seus eternos ofegos
E não tão presentes suspiros,
À procura dos afagos.
A harmonia corporal.
A produção da felicidade
Através da eliminação
De saltitantes gotas de suor
Transbordando o citoplasma.
A intensidade dos sentimentos
Constantes em seu coração.
Vibrante, repetitivamente esforçado,
A união das massas em um só ser:
O salão de festas.
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Amor de Criança
Dar as mãos no meio da classe?
Contar segredo?
Vamos rir escondido?
Brincar de faz-de-conta?
Ficar acordado até tarde?
Vamos comer besteira, amor?
Falar palavrão?
Vamos gritar na janela?
Incomodar o vizinho?
Pular na cama?
Vamos pintar a parede, amor?
Mexer com o gato?
Assustar velho na praça?
Vamos correr do vento?
Nos fingir de estátua?
Vamos dormir, amor?
Guilherme Lanari Bo Cadaval 21/08/2007
Uma versão infantil de um poema do Vinícius intitulado Amor.
terça-feira, 21 de agosto de 2007
Um Belo Dia
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Sem Título
Entrelaça meus pensamentos
Ofusca
Entre seus lábios
Censuro meu desejo
Tento me firmar
Tento sentar o chão
Me seguro à realidade
Mas é inevitável ao desejo do
Calor do seu colo
Rapidamente
Me vejo acompanhando seu corpo
No doce prazer do ilusório
Irreal.
18/08/2007
domingo, 19 de agosto de 2007
Flora
Quando sua camisa ficou molhada até a metade, sentiu aquela emoção de sempre. Essa era a melhor hora. Acontecia logo antes de ficar cansado. Seu corpo se acostumou com o exercício, mas não havia chegado ao cansaço. Era o momento em que sentia seu corpo mais leve. Sentia seu coração palpitar a cada passada. Sua respiração, ainda ritmada, dava uma sensação, de expansão, gostosa em seu pulmão.
Passado esse momento de míseros, ínfimos segundos, seu corpo se tornou pesado e seus músculos passaram a doer. “Normal” pensou. E era. Dali a pouco o exercício acabaria e ele chegaria à sua casa, pois estava quase alcançando a metade do percurso. Mas aos poucos seu corpo tornou-se mais pesado. Preocupou-se. Aquilo já não era que nem o habitual. Sentiu como se sua massa tivesse aumentado duas, três, quatro vezes. Até que não se agüentou e caiu de joelhos. E ao atingir o chão, o mundo ficou todo em preto e branco. Não entendeu mais nada. Mil preocupações vieram à tona: sua mulher, trabalho, dívidas. Desabou de barriga para o chão, seus olhos quase fechados.
Foi então que viu, no gramado ao seu lado, uma flor. A rosa brilhava, como todo seu esplendor em todas as suas vivas cores. De seus olhos, rolaram belas e recheadas lágrimas. Suas preocupações sumiram com o vento e aquela tão formosa planta passou a ter toda sua atenção. Mesmo não compreendendo nada, ele sabia quem era aquela flor. Ficou feliz por ter tido a chance de vê-la antes que tudo acabasse.
sábado, 18 de agosto de 2007
Sem Título
A faca que te parte em duas?
Serei o tempo que te carrega?
A melodia que te rege?
Serei tua lua nua?
A onda que te quebra?
Serei a voz no teu ouvido?
Cada outra batida de teu peito?
Serei o sim, o não, talvez?
As vestes que te cobrem?
O copo de onde bebes?
Serei chuva no verão?
A brisa que te arrebata?
Serei teu prazer furtivo?
Verbo imperativo?
Serei força da natureza?
O banco onde adormeces?
Serei o fim do mundo?
O sol nascente?
Serei teu?
Serei eu?
Guilherme Lanari Bo Cadaval 16/08/2007
Tem um verso roubado aí no meio....
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
Poema de Ponta de Língua
A beleza, tua formosa mágica, me fascina,
Contudo, hesitante, vacilo em contemplar.
Pois tua íris enxerga além da minha,
Explora a alma, se tal for permitido.
Mas eu não deixo.
Pois minha alma nunca será pura como ti.
A vergonha dessa tua descoberta
Atormentaria-me eternidades,
Infinitudes de tempo sem tua presença.
Então escondo meu rosto de peito aberto
Esperando que enxergues além da figura,
Que percebas meu amor
E te tornes o mesmo tanto.
quinta-feira, 16 de agosto de 2007
Cartas sobre a mesa
Homens de terno escuro?
Fazem nada,
Nada fazem,
Diz pássaro torto que logo esconjuro.
Porque se sentam abaixo da mangueira,
À esquerda da roseira,
Ao lado da água que desce corriqueira,
Toda triste sexta-feira?
Respondem os homens,
Em tão grave coro:
Aqui jogamos vida curta.
De satisfação plena,
Onde ninguém nos escuta.
Guilherme Lanari Bo Cadaval 14/08/2007
Carolina disse...
(...) eu sugiro uma cena: Um grupo de quatro homens em seus 40 anos em uma mesa no parque jogando pôquer....
Taí o resultado. Espero que gostem. Continuo aceitando sugestões. Podem deixar em qualquer post. Uma que seria legal é o título para um poema.
quarta-feira, 15 de agosto de 2007
Pensamentos Impuros
Meninos e meninas
Sem postura nem compostura.
Andando, falando.
Como o ciclo da água,
Descem e sobem ruas.
Incansáveis criaturas.
Seus olhos que tanto viram
Mostram aos seus cérebros
Suas mais novas experiências.
O que é muito é pouco.
Inexperientes, vagam,
Procurando experiências,
Experimentos.
Matam e machucam,
Sem vida, a vida.
Insetos esmagados,
Animais chutados.
Longe de suas cabeças
A percepção da semelhança.
Se lançam aos impulsos,
Puros, tão impuros.
Buscam o calor e o amor.
Encontram muita dor,
Mas como se fosse água,
Engolem, sem gosto nem desgosto.
E seus corpos manchados,
Marcham sem direção.
O egoísmo, excêntrico,
Egocêntrico, é o motor.
Suas imagens refletidas lhes chamam a atenção
Mais que as estações, primavera, verão.
A vida vai passando
Rápido como quem tem pressa.
Esses que têm pressa:
Essas crianças, andrógenas,
Fruto de suas dores,
De seus mais belos amores.
Vivem a vida como se fosse curta
Sentem como se fosse longa
E morrem como se não tivesse sido,
Como se pudessem ter aproveitado mais.
E seus arrependimentos,
Se tornam os únicos sentimentos.
Dignos de pena, vagam.
Atravessam paredes, como fantasmas.
Quem lhes dera ser a parede.
Tão simples, pura, fácil.
Ao invés, só sugam tudo e se destroem.
Engraçadinha, essa raça humana.
terça-feira, 14 de agosto de 2007
A Máquina
Ca
Pá ra
Síscan
Galha
Vem o
Homemseu lugar.
Nun ca
Pára
Síscan galha
Vemo homemseu lugar.
Nuncapára
Síscangalha
Vemohomem seulugar.
Nuncapárasíscangalha
Vemohomemseulugar.
Nuncapárasíscangalha vemohomemseulugar.
Nuncapárasíscangalhavemuôminseulugá.
Nuncapárasíscangalhavemuôminseulugá.
Nuncapárasíscangalhavemuôminseulugá.
Guilherme Lanari Bo Cadaval 13/08/2007
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
Froid Nuit
Le foncé en transformant
La vie dans noire et blanc.
La vie qui ne vit pas.
Seulement survit
Avec les suppléments
Ressemblés dans le matin
Et dans l’après-midi.
Mais la nuit ne juge pas.
Elle est morte.
Parce que la vie,
Sans couleur,
N’est pas vivent.
Et quand souffle
Son froid vent,
Elle souffle tous
Sans distinction.
Quand elle montre
Leurs plus jolies étoiles,
Elle les montre pour tous.
Tous les regards de tous les êtres.
L’ivrogne n’est pas illuminé
Comme le sobre
Et le pécheur
Comme le saint.
Parce que la nuit
Ne juge pas, c'est morte.
O escuro transformando
A vida em preto e branco.
A vida que não vive.
Somente sobrevive
Com os suprimentos
Coletados na manhã
E na tarde.
Mas a noite não julga.
Ela está morta.
Porque a vida,
Sem cor,
Não é vivida.
E quando sopra
Seu frio vento,
Ela sopra todos
Sem distinção.
Quando ela mostra
Suas mais lindas estrelas,
Ela as mostra para todos,
Todos os olhares de todos os seres.
O bêbado não é iluminado
Como o sóbrio
E o pecador
Como o santo.
Porque a noite
Não julga, está morta.
domingo, 12 de agosto de 2007
Flor da Idade
A apuração dos sentidos.
A produção incessante
Dos hormônios assaz vitais.
O esforço de uma vida
Em se embelezar
Tentando difundir a espécie.
A atração sensual espalhada
E causada pelos olhos animais.
A sexualidade em profusão.
A primavera em seu auge
Manchando a paisagem
Em cores púrpura e rósea.
O desabrochar de um ser.
A puberdade em seu limite.
O amadurecer de um corpo.
A idade de ouro.
• visão - uma árvore que vai florindo aos poucos;
• olfato - cheiro da terra e do ar antes de uma chuva.
sábado, 11 de agosto de 2007
Meninas ao Vento
Ó meninas?
Deram-se, despreocupadas.
Como se a tarde
Não acabasse.
Correram com pés de bailarina,
Que contra o chão,
Barulho não fazia.
Porque soltaram teus cabelos,
Ó meninas de seda?
E passaram à frente do poeta,
Todas se rindo.
Como dizendo,
Este jamais nos tocará.
Porque voam tão alto,
Ó meninas de nuvens?
Deslizando felizes
Junto ao sol,
Feito pétala vadia
De rosa.
Brincaram de pega,
Beijo na boca.
Feito ninfas
Em campos verdejantes.
E o poeta ao pé da árvore,
Suspirando versos,
De meninas ao vento.
Guilherme Lanari Bo Cadaval 10/08/2007
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
Primeiros Encantos
^^
quinta-feira, 9 de agosto de 2007
Um Pedido
Os poemas podem demorar um pouco para chegar, mas tenham certeza de que vão chegar. Acho que era só isso. Estaremos esperando seus comentários. : )
quarta-feira, 8 de agosto de 2007
Carne e Subjetividade
Se não carne e sangue?
Do que é feito o amor
Se não tempestades cerebrais?
Como pode a subjetividade
De um poema mal-feito
Interagir com os músculos
Da mão e dos dedos que o escrevem?
Tudo se relaciona sem conexão;
Tudo faz bater forte o coração;
Tudo traz alguma emoção.
Então o que é a vida
Além da literatura
Em sua materialização?
terça-feira, 7 de agosto de 2007
Poema de última hora
Você.
Condição de minha existência.
Que sem você,
Perde o significado.
Quero te amar
Todo dia
E eternamente.
Mesmo que
Uma eternidade
Não seja suficiente.
Mesmo que pobre,
Na chuva.
Mesmo que
Com fome
E frio.
Sapato furado,
Na beira do
Precipício
Enlameado.
Mesmo sem voz
Para dizer.
Papel seco
Para escrever.
Olhos nos teus
E sabes.
Sem você,
Não vivo
Segundo sequer.
Guilherme Lanari Bo Cadaval
segunda-feira, 6 de agosto de 2007
Snowflakes
The girl started walking. Why would she be there any longer? She put her legs to move, then. What could she do, right?
For one second, she distracted herself. It had started snowing and one of the most beautiful things she had ever seen, were the little snowflakes, falling upon her head, falling from the beautiful, magnetic, clouds. She realized it was cold, and put the gloves on. But her mind would not go too far. Suddenly she started thinking about her, so brief, life. And she has always believed she was relaxed, calm. She would put her hand on fire, she would bet all of her possessions on that belief. How about “Don’t worry, be happy!”? Wasn’t she one of the people who most said that? Then why was she in that situation. She was terrified.
And then, when the smallest snowflake on Earth landed, right on her nose, as if it wanted to show how simple life is. All of the sudden she remind herself why she was in that situation. She stopped right in front of her house. A sweet laugh came out of her mouth and she slowly closed her blue eyes. How happy was she? She didn’t know, she didn’t care, really. She was only seven years old and just wanted to get home, hug her mother, and play with her toys. She got rid of her worries and entered her home.
24/05/2007
domingo, 5 de agosto de 2007
Um Aviso e um Soneto...
Soneto Da Rosa Tardia
Vinícius de Moraes
Como uma jovem rosa, a minha amada...
Morena, linda, esgalga, penumbrosa
Parece a flor colhida, ainda orvalhada
Justo no instante de tornar-se rosa.
Ah, por que não a deixas intocada
Poeta, tu que és pai, na misteriosa
Fragrância do seu ser, feito de cada
Coisa tão frágil que perfaz a rosa...
Mas (diz-me a Voz) porque deixá-la em haste
Agora que ela é rosa comovida
De ser na tua vida o que buscaste
Tão dolorosamente pela vida?
Ela é rosa, poeta... assim se chama...
Sente bem seu perfume... Ela te ama...
Rio, julho de 1963
sábado, 4 de agosto de 2007
Futuro do Pretérito
Demais para viver no presente.
Vivo no futuro do pretérito.
Vivo?
Não sei,
Tento,
Mas não consigo parar de pensar
Em meus erros
E minhas intenções
Grandes intenções.
As quais,
Não tive coragem para realizar.
Pasmo,
Com o que poderia ter feito,
Penso mais e mais
Em uma solidão sem fim.
Disso,
Não sei se conseguirei sair
Sem ter que morrer
E parar de pensar
Para acabar com minha carência,
Que só traz solidão,
E o futuro do pretérito.
Vivo?
sexta-feira, 3 de agosto de 2007
O Mar
Ondas que quebram, vejo do teu colo.
Faço dali minha morada.
Permanente.
Até que o sol se ponha.
Atrás da gente.
Quando teu sal tomar a minha boca.
Visão embaçada que a água faz.
De repente somes.
Em onda qualquer.
Já no chão ouço teu canto.
Pulsa longínquo.
Oscilante.
Alerta teus futuros navegantes.
Que mesmo calados, podem cair no teu falso encanto.
E desavisados como fui, voltarem vazios de ti.
Guilherme Lanari Bo Cadaval 9/07/2007
quinta-feira, 2 de agosto de 2007
Confinamentos
Nem sempre forte, porém
Eternamente diário.
No primeiro ano em teu,
Mais puro, convívio,
Me apaixonei.
Sem muitas palavras trocadas,
Confinamos nossos amores.
Secreta
E simultaneamente.
Muitos momentos depois,
Por ti, meu amor retornou,
E dessa vez, sozinho.
Em meio a abraços,
Não me esforcei em me esconder.
Por ti sofri.
Por ti vivi.
Agora, meu amor
Apenas descansa,
Exausto.
Contudo, em meu coração,
Há uma certeza,
Implacável, verídica.
Pois este pobre coração
Mesmo que em parte,
Mesmo que cansado
De nossos amores,
É, para sempre, teu.
quarta-feira, 1 de agosto de 2007
Maria Rotineira
Lava a louça, faz a feira.
Senta no meio-fio,
Não sente canseira.
Em casa dos outros
Se diz faxineira.
Lavadeira,
Passadeira,
Cozinheira.
Esconde a poeira,
Toda sexta-feira.
Marido de Maria
Trabalha na pedreira.
Tosse a noite inteira.
Três filhos têm Maria,
Só lhe dão trabalheira.
Estudam de dia,
Fazem festa na ribanceira.
Maria e seu marido
Acordam sempre com olheira.
Coração de Maria
Quebrou a rotina.
Parou na quarta-feira.
Guilherme Lanari Bo Cadaval 30/07/2007
terça-feira, 31 de julho de 2007
Vida
Ao passar pelo poste seguinte, notou, para sua surpresa, outra teia. Dessa vez mais espessa e desenhada. E ao ritmo que andava e encontrava tais teias, cada vez mais detalhadas e resistentes, a cidade se enevoava. Quanto mais passava por postes, mais difícil ficava quebrar as teias e mais densa a névoa se tornava. Até que ao arrancar uma teia, com tremendo esforço, notou-se cansado.
Dirigiu-se ao próximo poste às cegas, pois o ar cinza o permitia ver apenas alguns palmos à frente de seu corpo. Alcançando a coluna de concreto, pôs as duas mãos na teia e se apoiou para descansar. Debruçou-se para relaxar e percebeu que ainda continuava a ficar cansado, como se tivesse sua energia sendo drenada de seu corpo. E ali ficou até que a névoa desaparecesse, junto com todas as teias e seu corpo pesado e exaurido.
segunda-feira, 30 de julho de 2007
Sem Título
Até onde não podias ver.
Em meu fundo escuro;
Desabitado.
Deitado em meu colo,
Lhe fazia cafuné.
Era como receber,
Tão bem me sentia.
Teu eco em meu peito,
Dias a fio.
Umedecendo meus lábios
Para o gozo.
Já não ecoa.
Não arrepio.
Permaneço desabitada.
Levou meus sentidos.
Guilherme Lanari Bo Cadaval 30/07/2007
domingo, 29 de julho de 2007
Sacrifício
Para os pedestres que ali passavam, aquela era só uma linda criança, quase mulher. Os espectadores a viam sentada, em paz, brincando inocentemente com sua mão, olhando o mundo que tentava sempre compreender mais.
Levantou-se e começou a andar na grama, lenta, sem vontade. Sua saia longa, até o joelho, balançava com o vento, como em uma dança. Mas ela não dançava, só vagava. Seu coração doía e não sabia por quê. Pôs a mão direita em seu peito para senti-lo bater. Respirou profundamente e continuou a andar, com seus dedos entrelaçados de novo. Suas ações nem eram lembradas, mesmo dois segundos depois. Fazia tudo quase inconscientemente.
Ouviu uma voz familiar, alguém gritava, longe, ela avistou mas não enxergou quem era. Com dificuldade, andou mais rápido, para conseguir ver quem a chamava. Quando apenas dez metros o separavam, viu o rapaz. Ela o amava, não sabia como nem por quê. Seu corpo começou a relaxar, sentia que já podia falar. Gritou seu nome. Seus braços se soltaram livres, ao vento, e ela correu. Lágrimas pulavam de seus olhos. Ela nunca estivera tão feliz em vê-lo. A criança, quase homem, percorreu o mesmo caminho que ela, com pressa. Não entendia o que estava acontecendo, mas seu amor estava atravessando a rua, correndo. Com o esforço máximo que podia fazer a alcançou e empurrou.
A menina estava no meio do caminho quando foi empurrada e caiu. Sentiu que por um segundo havia perdido a consciência e olhou para o chão da rua, para o asfalto quente do dia ensolarado. Demorou alguns segundos para reconhecer o mundo. Não estava na grama e nem lembrava de haver estado. Alguém gritava, desesperadamente. A moça andou até o lugar de onde o grito surgira. Um caminhão estava parado, no meio da rua. Ao se aproximar, uma poça de sangue aparecia aos poucos, crescente. Viu o rapaz. Gritou seu nome. Ela correu e seus braços o prenderam a ela. Lágrimas escorriam de seus olhos. Ela nunca estivera tão triste em vê-lo.
sábado, 28 de julho de 2007
Utópica Harmonia
Foi longe, diz o vigia.
Pode vir Dona Maria.
Pegou o pedreiro na rodovia.
Que agonia! Nem com blindagem se tem calmaria!
Vem o menino: relaxa, tia.
Sou eu que vivo na noite fria.
Guilherme Lanari Bo Cadaval
24/07/2007
sexta-feira, 27 de julho de 2007
Burocracia
Tons imperativos,
Sem compaixão,
Ferem meus ouvidos
E logo, meu coração.
Tal política de merda que
Nos cerca e nos sufoca
Nessa dança burocrática
Que nunca acabará.
Vá para ali!
Cabeças abaixadas
E olhos fugazes
Acabam com a minha honra
E o que restava de dignidade.
Tal política de merda que
Nos cerca e nos sufoca
Nessa dança burocrática
Que estará sempre aqui.
Vá para acolá!
Dedos pontiagudos,
Sem sentido e precisão,
Me deixam perdido,
Sem noção de direção.
Tal política de merda que
Nos cerca e nos sufoca
Nessa dança burocrática
Que, aos poucos, me matará.
quinta-feira, 26 de julho de 2007
Musa
Me faz suspirar.
Esse que começa manso
E termina como onda;
A se quebrar.
Pois te vejo nua na areia.
Braços estendidos.
Vento contornando tuas curvas;
A soprar.
Não dizes palavra.
És apenas bela.
De ti esperam tanto... tantos.
Contenta-se em velejar.
Em mar de noites acesas.
Corações disparatados.
Métrica, rima, lágrimas.
De quem quis tanto te amar.
Guilherme Lanari Bo Cadaval 21/07/2007
quarta-feira, 25 de julho de 2007
Incompleto
Sem ti sou vazio.
Sou sem cor,
Sem vida e alegria,
Sou triste e incompleto.
Pois sem ti sou apenas
Um arco-íris pela metade,
Um ponto ínfimo de massa,
Uma flor sem pólen nem pétala.
Sem tua presença
A saudade aperta.
O coração bate fraco,
Enfermo.
Sem o teu espírito
O meu desaparece.
Escapa de meu corpo,
Com medo.
E ao evanescer de minha vida
Nada acontece.
Sem tua pele na minha
Nada sinto.
Sem teus olhos olhando os meus
Nada vejo.
Sem tua língua na minha
Nada gosto.
Sem teu cheiro inebriante
Nada cheiro.
Sem tua doce voz a me chamar
Nada ouço.
Melhor dizendo:
Sem ti não sou.
terça-feira, 24 de julho de 2007
A Bailarina e o Plebeu
Sou platéia.
Revela tua beleza, dançada.
Escondo-me atrás da palavra.
Teus vestidos são de princesa.
Minhas vestes, de marginal.
Tuas noites são glamourosas.
Meu quarto vazio.
Tens amantes pelo mundo.
Meu amor é singular.
Tens o mundo aos teus pés.
Eu me deixo levar.
Teu caminho é iluminado.
Vago pela escuridão.
Diz ser feliz.
Sofro de paixão.
Teu choro é de menina.
segunda-feira, 23 de julho de 2007
[Sem Título]
^^
É isso.
Então para estrear o blog, um post duplo. Aqui estão duas de nossas produções:
Tens remédio para o amor, caro senhor?
Respondia que não, o vendedor.
Nada que alivie essa dor?
Sinto muito, trovador.
Que fazes então quando teu peito arde?
Evito fazer alarde.
Fecho a venda de tarde.
Penso que nada dura uma eternidade.
Mas e as noites em claro?
Concentro-me no trabalho.
Teu coração ainda bate?
Sempre em disparate.