T - E - X - T - O - S

sábado, 8 de setembro de 2007

O Beijo da Vida

O movimento começara. A cena era, de fato, bonita. Reconhecia. Com seu corpo imóvel esperou. Lembrou-se de vários momentos de sua vida. Um em especial durou uma eternidade. Aquele primeiro beijo.
Seu coração batia forte como mil trovões e suas mãos tremiam com insegurança. Ele havia acabado de se declarar para ela e esperava sua resposta. Mas a resposta não viria pois ela estava pior que ele, ela estava em choque. Conseguiu juntar coragem e fez com que seus instintos o comandassem. Todas as suas fibras o levaram para frente e sua boca fora conduzida a dela. Ela não recusou, pois seu desejo não era diferente. Lábios se tocaram e as suas mãos seguraram o rosto da menina, como se em caso soltasse, ela fugiria. Mas essa não era a verdade. Finalmente a menina se mexeu e suas mãos se afirmaram no torso do garoto. Ele, por sua vez, colocou as mãos em torno dela, na altura da cintura. As mãos dela subiram e seus braços envolveram o pescoço do amante. E assim ficaram, dançando. Suas línguas, em sincronia com seus corpos, liberavam uma energia maravilhosa, que infiltrava suas células, seus corações.
Então, o machado atravessou seu pescoço em um lance só e sua cabeça voou. Jatos de sangue indicavam seus últimos batimentos cardíacos.
Ricardo Cardoso de Lima e Silva
23/07/2007

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Uma Crônica

O Pavão
(Rubem Braga)

Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.

Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.

Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.

Rio, novembro, 1958

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Troca de Personas

Deu-lhe um suave beijo na têmpora direita. Seus olhos expressavam claramente seu recente passado, mas ninguém percebeu, ninguém prestou atenção. Sentou-se no outro lado do cômodo em um sofá com bastante calor humano, de frente para o dono das têmporas e nele prestou atenção. Aquela era uma pessoa que o entendia, mesmo daquela poltrona, relativamente, distante. Naquele momento percebeu a diferença entre um olho bonito e um olhar bonito. O pequeno abismo que faz uma pessoa ser intensa por dentro ou apenas bonita exteriormente. Talvez fosse a química que fizesse isso. Talvez todos tivessem um par, ou mais, com quem pudessem entender a alma vendo-a apenas através de sua janela. Mas isso não importava. Abriu o sorriso, tentando expressar a falsa felicidade e respirou fundo, para que percebessem apenas a calma física, em vez do caos não-material. Quase podiam conversar mentalmente. Isso a assustou. Desviou o olhar e procurou conforto em conversas animadas, pois talvez a animação se transmitisse pelo ar.
Levantou-se e seguiu até a varanda. Lá, observou as estrelas, com curiosidade, tentava enxergar algo além de pontos, ligando-os. Mas nada sabia de astronomia. Suspirou e resolveu só apreciar o bonito céu. Os infinitos em passados distantes, muitas vezes mais velhos que ele mesmo. Afastou-se da luz do cômodo cheio e barulhento. Assim, ele podia respirar melhor a brisa, e sentir seu odor. Podia ver o céu quase azul de tão iluminado por tantas estrelas, agora, mais aparentes. O ar gelado da noite o fez ficar grato por estar vivo. Voltou para o cômodo barulhento, infestado de criaturas espaçosas.
Pegou algo para beber, sua garganta já lhe cobrava umidade. Água foi o líquido ideal. Desceu-lhe até o estômago, refrescando-a apenas como anjos o fariam. Terminou seu copo e foi ao banheiro. Trancou-se e sentou-se na privada com a tampa fechada. Estar em um cômodo tão pequeno, sozinha, fazia a vida parecer simples, trivial.
Esperou por uns minutos.
Ergueu-se e abriu a torneira. Apenas para sentir a água escorrer em suas delicadas mãos. Abriu a porta. Alguém esperava para usar o banheiro.
Logo depois, saiu do ambiente em que se encontrava. Com o rosto lavado, foi socializar com os amigos. A vida continuava igual e era mais do que o esperado. Voltou ao seu lugar, dando uma breve passada no outro lado do cômodo, em uma certa têmpora esquerda contida em um sofá. Sentou-se na mesma poltrona, de frente para ela.
Estavam felizes por existir o amor.
Ricardo Cardoso de Lima e Silva
01/05/2007
Obrigado, Julia, pela inspiração. Tô com saudades, aparece mais, po!
=*

terça-feira, 4 de setembro de 2007

sem título

Os prédios dançam
Evitando despencar.

Os cadarços balançam
Como quem nada quer.

As carteiras se abrem
Mesmo sem querer.

Cadê a pasta de dentes?
Cadê minha escova?


Ricardo Cardoso de Lima e Silva
04/10/2007
Agora os posts serão dia sim dia não, então. Porque não sustento isso sozinho.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Aviso

Resolvi dar um tempo no blog. Voltarei algum dia, não sei quando.
Obrigado à todos que passam por aqui,

Guilherme.

domingo, 2 de setembro de 2007

Saltinho em Bancos

“O que minha galinha faz em cima daquele gato?”

“Você tem um cachorro, sua mula.”

E o universo fez sentido.


Ricardo Cardoso de Lima e Silva
31/08/2007