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quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Troca de Personas

Deu-lhe um suave beijo na têmpora direita. Seus olhos expressavam claramente seu recente passado, mas ninguém percebeu, ninguém prestou atenção. Sentou-se no outro lado do cômodo em um sofá com bastante calor humano, de frente para o dono das têmporas e nele prestou atenção. Aquela era uma pessoa que o entendia, mesmo daquela poltrona, relativamente, distante. Naquele momento percebeu a diferença entre um olho bonito e um olhar bonito. O pequeno abismo que faz uma pessoa ser intensa por dentro ou apenas bonita exteriormente. Talvez fosse a química que fizesse isso. Talvez todos tivessem um par, ou mais, com quem pudessem entender a alma vendo-a apenas através de sua janela. Mas isso não importava. Abriu o sorriso, tentando expressar a falsa felicidade e respirou fundo, para que percebessem apenas a calma física, em vez do caos não-material. Quase podiam conversar mentalmente. Isso a assustou. Desviou o olhar e procurou conforto em conversas animadas, pois talvez a animação se transmitisse pelo ar.
Levantou-se e seguiu até a varanda. Lá, observou as estrelas, com curiosidade, tentava enxergar algo além de pontos, ligando-os. Mas nada sabia de astronomia. Suspirou e resolveu só apreciar o bonito céu. Os infinitos em passados distantes, muitas vezes mais velhos que ele mesmo. Afastou-se da luz do cômodo cheio e barulhento. Assim, ele podia respirar melhor a brisa, e sentir seu odor. Podia ver o céu quase azul de tão iluminado por tantas estrelas, agora, mais aparentes. O ar gelado da noite o fez ficar grato por estar vivo. Voltou para o cômodo barulhento, infestado de criaturas espaçosas.
Pegou algo para beber, sua garganta já lhe cobrava umidade. Água foi o líquido ideal. Desceu-lhe até o estômago, refrescando-a apenas como anjos o fariam. Terminou seu copo e foi ao banheiro. Trancou-se e sentou-se na privada com a tampa fechada. Estar em um cômodo tão pequeno, sozinha, fazia a vida parecer simples, trivial.
Esperou por uns minutos.
Ergueu-se e abriu a torneira. Apenas para sentir a água escorrer em suas delicadas mãos. Abriu a porta. Alguém esperava para usar o banheiro.
Logo depois, saiu do ambiente em que se encontrava. Com o rosto lavado, foi socializar com os amigos. A vida continuava igual e era mais do que o esperado. Voltou ao seu lugar, dando uma breve passada no outro lado do cômodo, em uma certa têmpora esquerda contida em um sofá. Sentou-se na mesma poltrona, de frente para ela.
Estavam felizes por existir o amor.
Ricardo Cardoso de Lima e Silva
01/05/2007
Obrigado, Julia, pela inspiração. Tô com saudades, aparece mais, po!
=*

Um comentário:

Anônimo disse...

nha, muito obrigada pela menção e homenagem xD
fiquei deveras honrada.
também sinto saudades, mas a vida está duríssima esse ano x__x"
beijos!