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quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Poema

Essa é uma tradução que fiz, de um poema do Pablo Neruda.


Se me esqueceres
(Pablo Neruda)

Quero que saibas
uma coisa.

Sabes como isso é:
se olho
a lua de cristal, o galho vermelho
do outono lento à minha janela,
se toco
perto ao fogo
a cinza impalpável
do corpo enrugado do tronco,
tudo, a ti, me levas,
como se o que existe,
cheiros, luzes, metais,
fossem pequenos barcos
que navegam
para tuas ilhas que por mim esperam.

Mas,
se aos poucos deixares de me amar
à ti deixarei de amar aos poucos.

Se de repente
me esqueceres
não me procures
pois, por mim já deves ter sido esquecida.

Se pensas louca e longamente,
ventos conspícuos
que sopram por minha vida,
e decides
deixar-me à beira-mar
do coração onde criei raiz,
lembres
que em tal dia,
à tal hora,
erguerei os braços
e minhas raízes planarão
à procura de outra terra.

Mas
se cada dia,
cada hora,
sentires teu destino em mim
com implacável doçura,
se cada dia uma flor
subir-te os lábios à minha procura,
ah meu amor, ah meu eu,
em mim o fogo se repetirá,
em mim nada se extingui ou se perde,
do teu, meu amor se nutre, amada,
e enquanto viveres estará em teus braços
sem que deixe os meus.