Tão leve, sublime, escorria por uma têmpora. Um tom esbranquiçado, não a deixava ser transparente. Gotas passavam, esnobes, brilhosas, refletiam todas as cores em suas redondas formas. Tão belas. Tão feias, riam de sua condição. Estando presa à superfície, estava condenada. Sua forma disforme lhe tornava um peso, um detalhe. Descia lentamente pela pele áspera, ansiosa pelo fim. Perdia sua vida a cada segundo que se passava. Queria ser livre, cair pelo mundo. Pois aqueles segundos de liberdade valiam mais que qualquer infinidade naquela forma, daquele jeito. Quando beirava o queixo, juntou suas forças, não agüentava mais. Sua velocidade diminuiu e seu volume aumentou. Aos poucos se libertava. Ali, haveria de ser feito um sacrifício. Deixando uma parte pequena de si ainda naquela pele, saltou. Durante aquele segundo unitário, brilhou o quanto podia, com seu lindo tom opaco.
Ricardo Cardoso de Lima e Silva
23/07/2007
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