T - E - X - T - O - S

sábado, 25 de agosto de 2007

sem título

O cheiro suave,
A sensação úmida
De um odor frio.
A sinestesia
Influenciando olfatos alheios.

As crianças choram,
O futebol será cancelado
E o dever de casa, esperado.

Os animais se recolhem,
A impermeabilidade de seus espíritos
Não é refletida na de seus corpos.

As plantas, ressecadas, alegram-se,
Pois a sede não durará muito
E a chuva não tardará.


Ricardo Cardoso de Lima e Silva
23/08/2007
Maria Clara disse...
  • olfato - cheiro da terra e do ar antes de uma chuva.

Tá aí, o segundo, espero que goste.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Poema Vermelho

Boca,
Pele,
Rasga,
Fere.
Ferida aberta no rosto do homem.
Era só eu, era mais um.
Enquadrado em perfil dissonante.
Esquadrado por tropas de areia.
Parece vermelho-sangue.
Que jorra do arranha-céu.
E mancha vestido,
Inunda rua,
Suja calçada,
Estarrece o cinza.
Agora estava ali.
Um estendido entre prédios.
Se nasce rosa escura em cidade preta,
Não é rosa.

Guilherme Lanari Bo Cadaval 23/08/2007

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O Salão de Festas

O salão de festas
Pulando, pulsando.
Suas células juntas,
Transpirando,
Se mexendo em um só ritmo.

A respiração musical
Envolvendo a todas,
Com seus eternos ofegos
E não tão presentes suspiros,
À procura dos afagos.

A harmonia corporal.
A produção da felicidade
Através da eliminação
De saltitantes gotas de suor
Transbordando o citoplasma.

A intensidade dos sentimentos
Constantes em seu coração.
Vibrante, repetitivamente esforçado,
A união das massas em um só ser:

O salão de festas.

Ricardo Cardoso de Lima e Silva
18/08/2007
Para Babi, quase uma semana atrasado. Parabéns de novo.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Amor de Criança

Vamos ficar juntinho, amor?
Dar as mãos no meio da classe?
Contar segredo?
Vamos rir escondido?
Brincar de faz-de-conta?
Ficar acordado até tarde?
Vamos comer besteira, amor?
Falar palavrão?
Vamos gritar na janela?
Incomodar o vizinho?
Pular na cama?
Vamos pintar a parede, amor?
Mexer com o gato?
Assustar velho na praça?
Vamos correr do vento?
Nos fingir de estátua?
Vamos dormir, amor?

Guilherme Lanari Bo Cadaval 21/08/2007


Uma versão infantil de um poema do Vinícius intitulado Amor.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Um Belo Dia

Um Belo Dia acordou e olhou o relógio. Belo Dia estava devagar, mas bonito. Assim como os outros Dias, sorriu para todas as vidas do planeta, iluminando-os com alegria. Mas este Dia não era como qualquer outro, era muito especial. E porque esse Dia era Belo, todos viveram com um pouco mais de alegria, pois o Dia estava alegre. Mas no final, depois de tantos momentos inesquecíveis, o Dia estava morrendo, pois tinha de morrer, como todos os outros Dias. E ao entardecer, Um Belo Dia tentou copiar seu jeito de quando acordou, pois assim havia ficado mais bonito, mais puro. Havia de nascer e morrer belo e puro. Muitos pararam para assistir Um Belo Dia morrer. Até mais do que os que o assistiram nascer, o que parece meio mórbido. Após tal cerimônia, o mundo, regado de novas energias e entusiasmos, dados por aquele Dia, continuaria a viver. Parecia ser cedo, até. Mas quando todos realmente refletiam o tempo do Dia não fora nada mais que o necessário, nada mais que o ideal. E assim era o mundo e a vida, nenhum Dia durava mais que outro Dia.

Ricardo Cardoso de Lima e Silva
25/07/2007

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Sem Título

Sobrevoa fugaz
Entrelaça meus pensamentos
Ofusca
Entre seus lábios
Censuro meu desejo
Tento me firmar
Tento sentar o chão
Me seguro à realidade
Mas é inevitável ao desejo do
Calor do seu colo
Rapidamente
Me vejo acompanhando seu corpo
No doce prazer do ilusório
Irreal.


Carlos Eduardo Fonseca Vieira Peixoto
18/08/2007

domingo, 19 de agosto de 2007

Flora

O exercício matinal sempre lhe fizera bem. Todos os dias, corria alguns quilômetros na calçada da vizinhança de sua casa. Sentiu a primeira gota de suor escorrer seu rosto e soube que em pouco tempo ficaria mais difícil.
Quando sua camisa ficou molhada até a metade, sentiu aquela emoção de sempre. Essa era a melhor hora. Acontecia logo antes de ficar cansado. Seu corpo se acostumou com o exercício, mas não havia chegado ao cansaço. Era o momento em que sentia seu corpo mais leve. Sentia seu coração palpitar a cada passada. Sua respiração, ainda ritmada, dava uma sensação, de expansão, gostosa em seu pulmão.
Passado esse momento de míseros, ínfimos segundos, seu corpo se tornou pesado e seus músculos passaram a doer. “Normal” pensou. E era. Dali a pouco o exercício acabaria e ele chegaria à sua casa, pois estava quase alcançando a metade do percurso. Mas aos poucos seu corpo tornou-se mais pesado. Preocupou-se. Aquilo já não era que nem o habitual. Sentiu como se sua massa tivesse aumentado duas, três, quatro vezes. Até que não se agüentou e caiu de joelhos. E ao atingir o chão, o mundo ficou todo em preto e branco. Não entendeu mais nada. Mil preocupações vieram à tona: sua mulher, trabalho, dívidas. Desabou de barriga para o chão, seus olhos quase fechados.
Foi então que viu, no gramado ao seu lado, uma flor. A rosa brilhava, como todo seu esplendor em todas as suas vivas cores. De seus olhos, rolaram belas e recheadas lágrimas. Suas preocupações sumiram com o vento e aquela tão formosa planta passou a ter toda sua atenção. Mesmo não compreendendo nada, ele sabia quem era aquela flor. Ficou feliz por ter tido a chance de vê-la antes que tudo acabasse.


Ricardo Cardoso de Lima e Silva
Reescrito em 23/07/2007