T - E - X - T - O - S

sábado, 4 de agosto de 2007

Futuro do Pretérito

Penso,
Demais para viver no presente.
Vivo no futuro do pretérito.
Vivo?

Não sei,
Tento,
Mas não consigo parar de pensar
Em meus erros
E minhas intenções
Grandes intenções.
As quais,
Não tive coragem para realizar.

Pasmo,
Com o que poderia ter feito,
Penso mais e mais
Em uma solidão sem fim.
Disso,
Não sei se conseguirei sair
Sem ter que morrer
E parar de pensar
Para acabar com minha carência,
Que só traz solidão,
E o futuro do pretérito.
Vivo?


Ricardo Cardoso de Lima e Silva
12/11/2003

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O Mar

Olhos de azul.
Ondas que quebram, vejo do teu colo.
Faço dali minha morada.
Permanente.
Até que o sol se ponha.
Atrás da gente.
Quando teu sal tomar a minha boca.
Visão embaçada que a água faz.
De repente somes.
Em onda qualquer.
Já no chão ouço teu canto.
Pulsa longínquo.
Oscilante.
Alerta teus futuros navegantes.
Que mesmo calados, podem cair no teu falso encanto.
E desavisados como fui, voltarem vazios de ti.

Guilherme Lanari Bo Cadaval 9/07/2007

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Confinamentos

Meu coração bate por ti.
Nem sempre forte, porém
Eternamente diário.

No primeiro ano em teu,
Mais puro, convívio,
Me apaixonei.
Sem muitas palavras trocadas,
Confinamos nossos amores.
Secreta
E simultaneamente.

Muitos momentos depois,
Por ti, meu amor retornou,
E dessa vez, sozinho.

Em meio a abraços,
Não me esforcei em me esconder.
Por ti sofri.
Por ti vivi.
Agora, meu amor
Apenas descansa,
Exausto.

Contudo, em meu coração,
Há uma certeza,
Implacável, verídica.
Pois este pobre coração
Mesmo que em parte,
Mesmo que cansado
De nossos amores,

É, para sempre, teu.

Ricardo Cardoso de Lima e Silva
02/07/2007

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Maria Rotineira

Maria rotineira
Lava a louça, faz a feira.
Senta no meio-fio,
Não sente canseira.

Em casa dos outros
Se diz faxineira.
Lavadeira,
Passadeira,
Cozinheira.
Esconde a poeira,
Toda sexta-feira.

Marido de Maria
Trabalha na pedreira.
Tosse a noite inteira.

Três filhos têm Maria,
Só lhe dão trabalheira.
Estudam de dia,
Fazem festa na ribanceira.

Maria e seu marido
Acordam sempre com olheira.

Coração de Maria
Quebrou a rotina.
Parou na quarta-feira.

Guilherme Lanari Bo Cadaval 30/07/2007

terça-feira, 31 de julho de 2007

Vida

Andava pela comprida rua já há alguns minutos. O tempo estava nublado e o dia estava refrescante, beirando o frio. Ao passar por um dos muitos postes de seu caminho, notou uma fina e suave teia que ligava a construção cilíndrica ao muro da casa pela qual passava. Ignorou a teia, como qualquer um faria nessa situação, e recomeçou a andar, arrebentando-a.
Ao passar pelo poste seguinte, notou, para sua surpresa, outra teia. Dessa vez mais espessa e desenhada. E ao ritmo que andava e encontrava tais teias, cada vez mais detalhadas e resistentes, a cidade se enevoava. Quanto mais passava por postes, mais difícil ficava quebrar as teias e mais densa a névoa se tornava. Até que ao arrancar uma teia, com tremendo esforço, notou-se cansado.
Dirigiu-se ao próximo poste às cegas, pois o ar cinza o permitia ver apenas alguns palmos à frente de seu corpo. Alcançando a coluna de concreto, pôs as duas mãos na teia e se apoiou para descansar. Debruçou-se para relaxar e percebeu que ainda continuava a ficar cansado, como se tivesse sua energia sendo drenada de seu corpo. E ali ficou até que a névoa desaparecesse, junto com todas as teias e seu corpo pesado e exaurido.
Ricardo Cardoso de Lima e Silva
Reescrito em 23/07/2007
Pra relembrar os velhos tempos, né? Esse texto é antigo, pra quem não sabe. Eu o fiz há dois ou três anos atrás e o perdi. Tentei reconstruí-lo outro dia. André, se você ler esse texto, me fale se acha que ficou ao menos parecido com o original.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Sem Título

Teu toque me arrepiava.
Até onde não podias ver.
Em meu fundo escuro;
Desabitado.

Deitado em meu colo,
Lhe fazia cafuné.
Era como receber,
Tão bem me sentia.

Teu eco em meu peito,
Dias a fio.
Umedecendo meus lábios
Para o gozo.

Já não ecoa.
Não arrepio.
Permaneço desabitada.
Levou meus sentidos.


Guilherme Lanari Bo Cadaval 30/07/2007

domingo, 29 de julho de 2007

Sacrifício

Sua face, tão perfeitamente moldada, escondia seu desespero. Sua mente confusa lhe pregava peças, como uma criança travessa brincando com a vida ínfima de um inseto. Seu corpo não transpirava, mas estava quente e ela respirava sem ritmo, perdida. Ali, sentada no banco do parque, brincava com seus dedos, aflita, como se tentasse tirar uma mancha em sua mão. E seus olhos giravam inquietos, procurando, vasculhando, paranóica. Mordia seus formosos lábios com força. Talvez para não se desprender totalmente do mundo.
Para os pedestres que ali passavam, aquela era só uma linda criança, quase mulher. Os espectadores a viam sentada, em paz, brincando inocentemente com sua mão, olhando o mundo que tentava sempre compreender mais.
Levantou-se e começou a andar na grama, lenta, sem vontade. Sua saia longa, até o joelho, balançava com o vento, como em uma dança. Mas ela não dançava, só vagava. Seu coração doía e não sabia por quê. Pôs a mão direita em seu peito para senti-lo bater. Respirou profundamente e continuou a andar, com seus dedos entrelaçados de novo. Suas ações nem eram lembradas, mesmo dois segundos depois. Fazia tudo quase inconscientemente.
Ouviu uma voz familiar, alguém gritava, longe, ela avistou mas não enxergou quem era. Com dificuldade, andou mais rápido, para conseguir ver quem a chamava. Quando apenas dez metros o separavam, viu o rapaz. Ela o amava, não sabia como nem por quê. Seu corpo começou a relaxar, sentia que já podia falar. Gritou seu nome. Seus braços se soltaram livres, ao vento, e ela correu. Lágrimas pulavam de seus olhos. Ela nunca estivera tão feliz em vê-lo. A criança, quase homem, percorreu o mesmo caminho que ela, com pressa. Não entendia o que estava acontecendo, mas seu amor estava atravessando a rua, correndo. Com o esforço máximo que podia fazer a alcançou e empurrou.
A menina estava no meio do caminho quando foi empurrada e caiu. Sentiu que por um segundo havia perdido a consciência e olhou para o chão da rua, para o asfalto quente do dia ensolarado. Demorou alguns segundos para reconhecer o mundo. Não estava na grama e nem lembrava de haver estado. Alguém gritava, desesperadamente. A moça andou até o lugar de onde o grito surgira. Um caminhão estava parado, no meio da rua. Ao se aproximar, uma poça de sangue aparecia aos poucos, crescente. Viu o rapaz. Gritou seu nome. Ela correu e seus braços o prenderam a ela. Lágrimas escorriam de seus olhos. Ela nunca estivera tão triste em vê-lo.
Ricardo Cardoso de Lima e Silva
23/07/2007
Eu tinha que mostrar esse antes que o blog parasse ou algo assim. Antes que deixasse de ser visitado pelos poucos que ainda têm a paciência de fazê-lo.