Pensar a vida... Espantar-se com ela. Vivemos tão fechados dentro destes sistemas invisíveis – uma cultura, um idioma, um estado, um apartamento, uma época, um círculo e uma vida social. Nosso mundo é separado em compartimentos, e cada aspecto de nossas vidas pertence a uma gaveta. Nesse sentido tudo é muito claro. Por mais que a gaveta possa estar bagunçada, confusa – está tudo ali, tudo ali pertence àquele lugar, e tem como “seguro” o nome da gaveta, o que deixa a bagunça ordenada, suportável.
Mas isto ocorre no nosso interior, que projeta essa “ordem” sobre a vida. Enquanto esta escapa a qualquer rótulo, corre solta por aí, sem regras, sem sentido, sem propósito, sem gavetas, sem ordem... Falando assim, não parece um grande absurdo, a vida? Nascemos com uma sentença de morte. Vivemos sem saber por que (por quem...?) ou para que. Guiamos a nós mesmos, ao tempo que somos guiados por forças além de nosso alcance, de nosso controle. Não falo
Um pensamento que tenho. Talvez soe como uma defesa da astrologia. O sol permite nossa vida. Dá cor a todas as coisas (nada tem, de fato, uma cor), nos esquenta, enfim, todos aqueles “fenômenos físicos”. O sol, uma estrela, é essencial, fundamental, decisivo em nossas vidas. E as outras estrelas, que da mesma forma estão no universo, tão distantes quanto nosso sol (porque para o homem tanto faz que sejam bilhões ou trilhões de quilômetros de distância)? Elas não fazem a menor diferença em nossas vidas? Afetam a terra, isso deve bastar para que também nos afetem.
O homem; esse bicho terrivelmente impotente frente à vida. Dominamos o planeta! Evidentemente temos sede. Sede igualmente terrível, que nunca sacia, que nunca vive a si mesma. Não, temos sede, então bebemos, enquanto pensamos na próxima sede e na próxima (in)satisfação. Será que o simples presente nunca nos bastará? Porque não é no presente que estamos aprisionados, embora a sensação seja claramente essa. É num futuro impossível, irreal, sem sangue, que corre artificialmente em nossos nervos. E mesmo vivendo dessa maneira ainda assim vivemos no presente!
Um dia o “homem” acabará. E talvez ele olhe para a própria ruína com surpresa. Talvez pare por um momento, e encontre-se face a face com a pequenez de sua grandeza. Há aqueles que temem parar, e ficar a sós, em silêncio consigo mesmos.