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domingo, 19 de agosto de 2007

Flora

O exercício matinal sempre lhe fizera bem. Todos os dias, corria alguns quilômetros na calçada da vizinhança de sua casa. Sentiu a primeira gota de suor escorrer seu rosto e soube que em pouco tempo ficaria mais difícil.
Quando sua camisa ficou molhada até a metade, sentiu aquela emoção de sempre. Essa era a melhor hora. Acontecia logo antes de ficar cansado. Seu corpo se acostumou com o exercício, mas não havia chegado ao cansaço. Era o momento em que sentia seu corpo mais leve. Sentia seu coração palpitar a cada passada. Sua respiração, ainda ritmada, dava uma sensação, de expansão, gostosa em seu pulmão.
Passado esse momento de míseros, ínfimos segundos, seu corpo se tornou pesado e seus músculos passaram a doer. “Normal” pensou. E era. Dali a pouco o exercício acabaria e ele chegaria à sua casa, pois estava quase alcançando a metade do percurso. Mas aos poucos seu corpo tornou-se mais pesado. Preocupou-se. Aquilo já não era que nem o habitual. Sentiu como se sua massa tivesse aumentado duas, três, quatro vezes. Até que não se agüentou e caiu de joelhos. E ao atingir o chão, o mundo ficou todo em preto e branco. Não entendeu mais nada. Mil preocupações vieram à tona: sua mulher, trabalho, dívidas. Desabou de barriga para o chão, seus olhos quase fechados.
Foi então que viu, no gramado ao seu lado, uma flor. A rosa brilhava, como todo seu esplendor em todas as suas vivas cores. De seus olhos, rolaram belas e recheadas lágrimas. Suas preocupações sumiram com o vento e aquela tão formosa planta passou a ter toda sua atenção. Mesmo não compreendendo nada, ele sabia quem era aquela flor. Ficou feliz por ter tido a chance de vê-la antes que tudo acabasse.


Ricardo Cardoso de Lima e Silva
Reescrito em 23/07/2007

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