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segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O Liberto

O ar pressionava as células de seu corpo. Ele rasgava o céu, cortando o ar em um som ensurdecedor, que nada mais era do que um agrado. Seus pensamentos confusos e obscuros sumiram, vagarosamente, um após o outro. O sentimento de leveza, fazia com que sua consciência não pesasse mais, fazia com que seu corpo flutuasse pela eternidade. Com movimentos rápidos, ele se divertia. Brincava como se fosse criança. Ele era seu próprio passatempo. Não precisava de comédias ou drogas para fazê-lo rir, pois ele sorria com prazer, e o ar secava sua boca, mas ele era criança e tudo o divertia, até isso. A roupa colava em seu corpo, trazendo-lhe uma sensação de nudez e liberdade. E era isso que acontecia. Seu corpo não era mais de sua pessoa, suas moléculas não formavam mais a mesma. Ele era pura felicidade e seu corpo, aos poucos, se transformava em, apenas, energia. Uma pequena olhada no ponteiro indicava-lhe que seu tempo acabara. E esse era o motivo pelo qual aquilo não era perfeito, o ponteiro. Apesar de toda a tranqüilidade que o ar que o cercava, que enchia seus pulmões com dificuldade, que o mantinha vivo, e vivo, mais do que nunca, agora, lhe oferecia, ele ainda havia de se preocupar. De súbito, suas lembranças de um mundo “real”, vinham à sua cabeça. Mas ele não queria se importar e nem lhe caberia de fazê-lo. Com um puxão, arrancou o pequeno aparelho que o tornava aflito, e com repetidos solavancos, arrancava sua roupa, em desespero. E, não porque entrava em pânico, mas porque se livrava dele e tinha pressa, pois seu tempo era curto.
E este momento, foi fantástico. Sentia seu corpo fluir pelo espaço, até um manto negro começar a cobrir seus olhos. Já tinha pulado muitas vezes naquela aventura. E sempre havia de voltar. Mas não agora, seu pára-quedas não abriria e ele estaria livre. Logo, ficou assim, feliz, para sempre.
Ricardo Cardoso de Lima e Silva
11/04/2007

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