Existe, no ser humano, um impulso de expressão. Seja por que meio ela se dê, o homem precisa exteriorizar-se. Isso pode parecer uma origem. Dizer que, desde a invenção do homem, ou melhor, a própria invenção veio da necessidade de comunicação. Dessa necessidade tornou-se possível o “homem”.
Mas também me parece uma coisa de todo incompreensível, a necessidade de comunicar-se. E, portanto, uma origem que não é original. Uma origem possível, mas inacessível. Parece um atrito, mesmo. Como quando se chocam duas pedras, e surge a faísca, que por si só é efêmera como a duração da existência, mas que pode botar fogo em tudo.
Então também no interior do homem deve haver esse atrito. Uma pedra chamada “vida”, outra pedra chamada “eu”. E isso é o que sustenta o homem como artista. Porque da tensão surge a criação. A tensão é sempre nova, imprevisível. Não é conhecida, enfim, não tem nome. Nem é possível saber que forças estão em jogo para que a criação surja. Então o homem é, essencialmente, artista. Pois tudo que jamais criamos veio dessa tensão. Inclusive uma maneira de pensar, chamada raciocínio. Do raciocínio surge a produção, que deixa de ser nova, deixa de ser criadora. Produção torna-se, sempre, reprodução.
Nesse impulso, deve falar ainda outro impulso. Ele é solitário, o homem é solitário enquanto testemunha e ator de seus impulsos. Mas ao mesmo tempo, existe a necessidade de proximidade com outros homens. Este o outro impulso. Uma centelha, que logo se apaga, desaparece, mas que lança, no ato de acender e apagar-se, um desejo de proximidade. É só um momento, ele também.
Talvez o homem sempre esteja nesse lugar inacessível. Entre a tensão e a explosão; entre desejo e expressão. É mesmo aquele espaço vazio, entre impulso e criação. O espaço que nunca alcançamos, onde não podemos permanecer, que não é origem nem fim, mas caminho. Como na música do Caetano: “o samba é pai do prazer / o samba é filho da dor / o grande poder transformador”. Estamos sempre entre dor e prazer, gestação e nascimento. Por isso nunca paramos de criar, por isso o impulso nunca se apaga. Necessitamos constantemente sair de nós mesmos, para depois retornar. E toda sensação, toda vida guarda-se nesse movimento.
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