sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Flores Mortas
Pois és somente isso;
Lembrança.
Sem lugar no tempo,
De todo tempo perdido.
Não fazes sentido.
Não tem pés, nem braços.
Nem rosto.
Um algo afogado
No fundo de caixa que não sabe onde está.
Não te evoca, o pensamento.
Se eras miúda e tinha olhos tristes.
Se no peito guardava
O que não se deve guardar.
Então tua voz terminava em coro,
Com o resto das coisas barulhentas.
E os dias não amanheciam,
Pra não te atrapalhar o sono.
A beleza que te deixa correr solta contra o vento.
Mas tu escapas de qualquer gravura,
E nos derrama as mágoas da vida.
Talvez teu pranto
Vá silenciar de vez as tantas folhas,
Voando mortas de encontro ao chão.
Rio, 22 de Fevereiro de 2008
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Assim é o Mundo
O pretérito perfeitamente imperfeito;
As máscaras impostas pelas metáforas;
Tempos traçando tantas aliterações;
Palavras ababacadas a acabar em assonâncias.
Poesia romântica
Entre tantas instâncias
De espírito constantemente
Atordoado de amor.
Rimas aleatórias,
Sem pé nem cabeça,
Saindo das mesas
E entrando nas memórias.
Prazerosa e angustiante.
Fórmulas insanas.
Um ajuste de variáveis
Translatando,
Rotacionando.
O voar de aves,
Nadar de peixes
E caminhar de mamíferos.
A esquelética forma
De artrópodes invertebrados.
A arte de amar e estar.
O modelo perfeito,
Inexistente.
A folha em branco.
O mundo,
Cada vez mais político,
Com menos forma,
Menos sonhos.
A atenção radiante
Do, e no, amor.
Quanta quanta em uma reação?
As evoluções febris,
Exponenciais,
Fatorando a alma
Em aspectos algébricos.
A repetição de eventos.
A demarcação de terrenos,
De história física.
De vida.
20/12/2007
sábado, 19 de janeiro de 2008
Sem Título
Depois de chuva.
Voltam os pombos
E o barulho urbano.
Volta gente nas janelas
Abertas.
Volta o branco
Nas calçadas
E a negra imponência
De montanha lá fora.
O primeiro suspiro
Depois da chuva
Quem sabe amanhã.
Rio de Janeiro, 19 de Janeiro de 2008
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
Sem Título
Na ponta da língua inerte
O fio negro que
Ainda pende dos cabelos
Dela.
Deito o mar.
Se vão as horas de beijos
Que não cabem entre os seios
De cidade em
Fantasia.
Onde fica a janela
Para jogar-lhe no sal
Que abunda as feridas?
Rio de Janeiro, 23 de Dezembro de 2007
domingo, 13 de janeiro de 2008
Corrida Solitária
O ritmo do teu coração
Me envolve.
Meus pés corridos
Se posicionam,
Como um robô,
Um à frente do outro.
Todavia, meu impulso, mecânico não é.
Teus arquejos se blindam nos meus.
Meu cansaço é tua exaustão.
Enquanto teus seios nus
Se postam em minha boca,
Meus braços se movimentam
Sem desistir do ímpeto,
Da inércia.
Teus movimentos repetitivos
Motivam-me a continuar os meus.
Às carícias de minhas mãos
Tu sucumbes aos arrepios.
Teus gemidos são tesouro.
Nossos corpos se fundem
Ao calor de nossos afagos.
Minha mente se torna a tua,
E a tua vive na minha.
E o teu orgasmo é minha satisfação.
A hipnose se torna escravidão.
Tu corres comigo.
Tua presença não me pesa o peito,
Nem mesmo minha consciência.
Tu sorris quando eu sorrio
E eu sorrio sem te notar.
Tua angelicalidade me persegue,
Trata-me injustamente bem.
Ao sentir saudades,
Quando os sonhos me pregam peças,
Toco-te e tu és minha para sempre.
Nesses sonhos infantis
Tu me acalmas.
"Hei de esperar contente
Pois tua vida é apenas uma,
Como a minha foste ao teu lado.
Um dia seremos ambos concretos de novo
Para que nossa abstração
Seja subjetiva em nossos relentos de amor".
Eu obedeço,
Hipnotizado.
Ricardo Cardoso de Lima e Silva
23/12/2007